

Na década de 1980 muitos sírios das regiões do litoral e do Qalamun viajaram para o Brasil e a Argentina fugindo das dificuldades econômicas. Quando retornavam para visitar seus parentes levavam consigo as curiosidades e os novos hábitos que adquiriram na América. O chimarrão fez parte desse intercâmbio cultural, principalmente dos que viviam na Argentina.
Para muitos na imigração a bebida lembrava momentos felizes passados com a família em outro continente, matando assim a saudade e preservando a identidade. Ao mesmo tempo, ela mantinha na memória de suas famílias a doce lembrança e o amargo da distancia de seus filhos imigrantes.
O gosto amargo da bebida também adoçou a vida social nas crescentes rodas de “Mate” (como é chamada a bebida no mundo árabe), substituindo muitas vezes o tradicional chá preto, transformando-se em moda que anunciava a crescente demanda e o surgimento de uma nova oportunidade de comércio.
Hoje é praticamente impossível entrar em uma casa síria do litoral, das aldeias do Qalamun ou até mesmo da capital Damasco sem receber as boas vindas com belíssimas badejas de prata com detalhes dourados, sobre elas uma pequena cuia “Joze”, muito menor que aquela com a qual estamos acostumados no Brasil, a bomba “Massa” e o bule de água sempre cheio. Junto à bandeja do chimarrão, parece ser indispensável a presença de bolos e biscoites. Um pequeno fogão a gás também não abandona a sala para não interromper o papo quando precisar esquentar a água. A pequena cuia, é revezada entre os presentes sempre intermediada pelo “preparador do chimarrão”, alguém do grupo com grande habilidade reconhecida e muita paciência, que limpa a bomba e prepara a bebida antes de entregá-la ao próximo degustador na fila.

Eles parecem não conhecer ainda a versão fria e nem desejam usar as grandes cuias do Brasil, pois o importante é compartilhar e distribuir em pequenas porções para ninguém se saciar e abandonar a roda de amigos e parentes. É verdade que a bebida energética tem origem Sul-Americana, mas perece que os sírios e libaneses a integraram melhor, encontraram nela um meio de promover a vida social, algo que sentimos muita falta por aqui, e a transformaram em um verdadeiro gesto de hospitalidade e generosidade.
Com o tempo a bebida se modernizou acompanhando a correria e a impaciência das novas gerações. A cuia deu lugar a copos de vidro que não precisam ser queimados usando açúcar e um metal incandescente como era o jeito de estrear as cuias de caieira, e o preparador de chimarrão foi praticamente aposentado, cada jovem carrega seu próprio copo e prepara o chimarrão como prefere. Mas o importante é que o chimarrão parece atravessar as gerações de sírios e libaneses ainda sendo a maior presença cultural sul-americana nos hábitos da sociedade árabe
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